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escrito por Ana Sarmento e Acir Tolezani
terça-feira, 19 de novembro de 2013

Mágoa


Então você se pega em uma temporada em que seu passado se torna presente e por incrível que pareça - mesmo depois de anos você mostrando a si mesmo e à todos a sua volta que você deixou esse carma pra lá e se superou - tu redescobre que ainda se importa.

Por incrível que pareça, ainda tudo continua fazendo parte do elenco que sempre foi: um show de horrores, um circo onde você é a atração principal. O foco dos risos, é você.

E por mais que corra atrás, faça promessas de sangue à si mesmo dizendo que duas vezes tomando tapa na cara é mais que suficiente para você aprender, acaba se deparando com o terceiro, quarto, quinto, oitavo e décimo tapa. E aí você percebe que caiu em deja-vu. Que toda a merda que um dia foi prometido à si mesmo nunca mais acontecer, na verdade, virou sua essência. Você não sabe mais viver e caminhar sozinho se esse grau de azar não caminhar com você.

Então você pára e pensa: realmente tudo que eu já vive em função de um sentimento que dizem ser essencial para qualquer pessoa (definido como amor) realmente valeu a pena?

Se valeu, por quê?

Por quê é tão complicado para uma das pessoas envolvidas seguir em frente, enquanto a outra, que viveu anos ao seu lado dividindo todos os momentos felizes e tristes além das conquistas juntos, ser tão de fácil superação?

Será o medo da outra pessoa que faz dela, no final das contas, um ser mais forte que você?

Sinceramente, eu me vejo, hoje, uma pessoa fraca. Não estou contente na imagem que o espelho reflete quanto estou à frente dele; sinto meus pecados e erros esvarando sobre meu rosto de 22 anos anos que transparece uma alma de 50.

A decepção, a mágoa, o amor, o respeito, a ingratidão, o descontentamento e acima de tudo a reciprocidade positiva são coisas que ainda abrem um buraco enorme em meu peito. São sentimentos que, pra mim, nem o tempo ou o acaso irão apagar. Foram muitos anos correndo e tentando alcançar um objetivo teoricamente simples: a felicidade. E quando digo felicidade, não me expresso somente na parte amorosa. O trabalho, amigos, inimigos e enfim... Tudo. Praticamente tudo têm feito da minha pessoa um ser pesado. Um ser que carrega consigo tanta informação que por exagerada demanda não conhece mais a si mesmo.

É fácil para quem está de fora julgar e apontar os erros que cometemos, mas somente quem está dentro da situação é capaz de dar todas as diretrizes dos "porquês" dos fatos. Somente quem sente a dor que tem sabe quantas noites e domingos chuvosos sozinhos foram necessários para essa tal superação. Quantos ombro-amigos foram requisitados e quantos conselhos foram tentados ser ouvidos para que você seguisse em frente.

Mas toda essa superação e indiferença que você adquiriu ao longos dos anos viram fumaça quando o olhar da pessoa causadora de tudo isso se encontra ao seu.

Viram fumaça, quando você se dá conta que a pessoa por quem você sempre foi apaixonado demonstra - mesmo que não seja a intenção - que você se tornou passado. Virou lembrança.

E por memória do passado, quem você ama te vê como amigo, como colega, como um ex de anos atrás que hoje foi superado. Mas no fundo dessa "verdade" toda, por cima dessa máscara que você sempre vestiu, ainda existe um amor incontrolável do qual você sabe que estará presente até o final da sua vida.

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